Águas de Setembro.
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Enchente Itajaí 10.09.11 By Cy Pruner |
Hoje após anos sai para caminhar pela minha cidade, infelizmente o que pude presenciar foram momentos de muita tristeza que apertaram meu coração, me arrepiaram e me fizeram pensar na vida e por momentos, momentos não, confesso que na maior parte desta caminhada tudo que via me parecia surreal, nem mesmo os olhos vendo todas as ruas alagadas, casas com água até o telhado, pastos que pareciam piscinas com água suja, ruas que não tinham começo nem vim, eram tudo um rio cheio de dor, angústia, medo, sofrimento, impotência, desespero, aflição, dúvidas e esperança, mesmo com os pés pisando sob o solo molhado das chuvas e sujando os tênis com a lama, mesmo olhando as pessoas nas ruas e sendo socorridas por barcos, outras andando com água até o joelho tentando levar água e comida para suas casas e outras curiosas como eu, mesmo assim não consigo acreditar nessa tragédia que abateu minha cidade neste feriado, entre todos estes olhares vim para casa e pensei que talvez este tenha sido um dos sábados mais importantes da minha vida.
Nesta caminhada pude perceber quanto tempo agente perde na vida com coisas inúteis, quanto tempo agente fica longe dos amigos, o quanto somos egoístas e egocêntricos e quanto tempo agente vive olhando o mundo com os olhos fechados.
Teve que ter toda esta tragédia para eu sair para uma caminhada de mais de 3 horas com as minhas amigas para eu “levantar e andar” literalmente como eu costumo falar, para eu poder olhar o mundo a minha volta e perceber que não é porque não é comigo que não me importa, minha casa não foi atingida graças a Deus, mais isso não quer dizer que não tenha que me importar com outros, nessa caminhada vi muita dor, pessoas tristes, desesperadas, amigos ilhados, medo e pessoas se sentindo impotentes diante das circunstâncias, mais também vi como existe gente nesse mundo, GENTE MESMO, SER HUMANO de verdade com uma FÉ que não sei de onde vem e confesso espero um dia ter, e que mesmo no meio de todas as coisas ruins que aconteceram com eles ainda encontravam motivos e força não sei de onde para dar um sorriso, para ajudar, para sorrir para o sol lindo que fazia hoje por aqui, sim hoje fez um dia lindo, um céu perfeito num azul sem fim onde o sol brilhava tão forte que cegavam nossos olhos e ao mesmo tempo refletia seus raios fortemente sobre as árvores e as águas que não eram poucas fazendo com que toda a desgraça e estrago parecesse uma imagem linda, perfeita e que por instantes permitia com que esquecêssemos que o que estava diante de nossos olhares era uma tragédia que parecia nunca ter fim.
Cheguei até a pensar será que sou uma pessoa sem coração por ver algo bonito no meio de toda está tragédia?Ou se sou abençoada por poder ver algo de bonito no meio de toda a tristeza e desgraça? Não sei, talvez nunca saiba, e hoje o que menos procuro são respostas, porém de qualquer forma durante a caminhada lembrávamos da realidade do porque estávamos ali e olhávamos novamente com os olhos chocados e incrédulos em tudo que estava na nossa frente, pensávamos que ali onde era água eram para estar às casas com suas famílias almoçando, conversando, vendo tv, rindo e aproveitando um sábado de sol, mais que somente o que restou de toda essa realidade era o sol...Que brilhava como os olhos das crianças que encontrei no caminho rindo e uma delas alimentado com capim uns bois que estavam ilhados num terreno, como o cão que veio até nos abanando o rabo, nos voluntários que estavam ajudando e nas pessoas que mesmo ilhadas não abandonavam suas casas.
Hoje foi um dia atípico, mais o quero falar na verdade é que foi preciso uma tragédia para que eu fosse caminhar com duas amigas pela minha cidade, que senão fosse esse triste acontecimento eu provavelmente estaria em casa na internet falando com elas e pensando na festa de hoje anoite, não iria olhar a cidade linda que tenho, e talvez jamais lembra-se o quanto é bom sair para caminhar, respirar, andar de braços dados e andar lado a lado pela rua com pessoas especiais, teve que vim o feio para que eu pudesse enxergar o bonito, teve que vim à ausência para eu querer estar perto, teve que parecer que eu não poderia estar lá para eu chegar, tive que ver o sofrimento dos outros para eu perceber que me importo, tive que ter medo do perigo e me sentir ameaçada para saber quem realmente me ama e se importa, tive que tentar entender como que todas estas pessoas que perderam tudo mais uma vez tem forças para continuar a acreditar, a não desistir e a reconstruir tudo novamente em menos de 3 anos, não são somente bens materiais, são sentimentos que não tem como não sentir depois, nem ignorar ou como apagar são fotos que não serão mais vistas, cartas que jamais serão lidas novamente, memórias perdidas com o tempo, marcas que irão ficar para sempre em suas almas, mais também são nestes tristes momentos que podemos saber quem realmente se importa, quem é grato e quem nos ama de verdade, sim porque quem ama se preocupa e se pré-ocupa por você e com você.
Hoje o lindo se misturou ao feio, o sol com a chuva, o triste ao alegre, a dor ao amor, o sorriso as lágrimas, a aflição ao abraço, o medo à esperança e a descrença em fé em DEUS.
Obrigado aos amigos que se preocuparam comigo, as ligações, mensagens, e-mails.
Obrigado em especial as amigas Cy e Jaque
Que Deus abençoe todas as pessoas atingidas pelas águas aqui em Itajaí e em todo o Estado, que elas tenham a fé necessária para que possam recomeçar quantas vezes forem preciso sem perder a esperança nas pessoas, sem perder o amor ao próximo e principalmente sem perder a fé em Deus e que possam ver o sol brilhar em todos os momentos da sua vida.
Que daqui para frente eu não precise ver o feio pra enxergar o belo, que eu não precise sofrer para aprender o amor, que eu não precise de tragédias para apreciar minha cidade e para sorrir para próximo, que eu não precise ter medo para lutar, que eu não espere sentir saudade para estar perto, abraçar e sorrir, que eu não precise de motivos para sair por ai e bater fotos e olhar o sol, que eu não precise ver a dor do próximo para entender que o mundo não gira em torno do meu umbigo e que eu me importo com os problemas do mundo não somente porque sou gentil, mais porque eu faço parte dele assim como todos no mundo fazem parte do meu.
“No feriado da Independência toda essa tragédia é um tapa na cara para as pessoas ingratas e que acham que não precisam de ninguém e se acham superiores... Ser independente é ter humildade de saber que você precisa do mundo do mesmo jeito que ele precisa de você! (Paula Eicke)”.
Fé, Força, Esperança e Amor.